Como num sonho
aqui me vedes:
água escorrendo por estas redes
de noite e dia.
A minha fala
parece mesmo vir do meu lábio
e anda na sala
suspensa em asas
de alegoria.
Sou tão visível
que não se estranha
o meu sorriso.
E com tamanha
clareza pensa
que não preciso
dizer que vive
minha presença.
E estou de longe,
compadecida.
Minha vigília
é anfiteatro
que toda a vida cerca, de frente.
Não há passado nem há futuro.
Tudo que abarco se faz presente.
Se me perguntaram pessoas,
datas,
pequenas coisas
gratas e ingratas,
cifras e marcos
de quando e de onde,
- a minha fala
tão bem responde
que todos crêem
que estou na sala.
E ao meu sorriso vós me sorris...
correspondência do paraíso
da nossa ausência
desconhecida
e tão feliz!
[Cecília Meireles]
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