domingo, 17 de junho de 2007

Vinícius de Moraes


Meu poeta... poetinha.. o que seria da minha tristeza sem você... pra dar tanta razão pro que eu sinto...

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Poeta e ex-diplomata, o branco mais negro do Brasil - era assim que se autodefinia Vinicius de Moraes.


Marcus Vinicius de Melo Moraes nasceu em 19 de outubro de 1913 no Rio de Janeiro. Estudou direito no Rio e Literatura em Oxford. Também se interessava por cinema, tendo sido crítico e censor cinematográfico. Seu drama, Orfeu no Carnaval, foi adaptado para o teatro e para o cinema. No cinema, com direção do francês Marcel Camus, levou a Palma de Ouro em Cannes e Oscar de melhor filme estrangeiro. Poeta romântico, apaixonado, foi o mais importante letrista da bossa nova. Suas parcerias com Tom Jobim, Baden Powell e Carlos Lyra são emblemáticas desse movimento musical e tornaram-se clássicos da música popular brasileira.
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O dialogo de Deus com São Pedro sobre Vinícius de Moraes.

Deus - Quem é este baixinho que vem aí, ao som do violão, de copo cheio na mão? São Pedro - Senhor, pelos indícios, só pode ser o vosso servo Vinicius, Menestrel da Gávea e dos amores inumeráveis.

[...]

Deus - Vá dizendo, Pedro. É sabido que você tem um fraco por essa gente que canta de noite, esteja ou não pescando, principalmente não estando.

São Pedro - Pois eu digo, Senhor, que esse baixinho aí, todo simpatia e delicadeza, é um de vossos bons servidores na Terra, pois combateu a maldade pela ternura, a injustiça pela fraternidade, e compôs os cânticos profanos que, elevando o coração dos ouvintes, fazem o mesmo que os cânticos sagrados.

[...]

Deus - Menos mal, se assim foi. Então Passe... como lhe chamas?

São Pedro - Vinicius, não o patrício romano, que o amor conduziu do paganismo à fé cristã, mas o de Melo Moraes, filho de pais que curtiam o Quo Vadis. Este nasceu diretamente para o amor, e não precisou meter-se nas embrulhadas do paganismo de Nero para achar o rumo de sua alma. Ele já estava traçado pelas estrelas de outubro, vossas mensageiras. Vinicius nasceu com a célula poética, e esta desabrochou em cânticos variados, na voz de seus lábios e na dos instrumentos. Com estes cânticos ele encantou o seu povo. E era um povo necessitado de canto, um canto tão necessitado mesmo!

Deus - Ele deu alegria ao meu povo?

São Pedro (exultante) - Se deu, Senhor! E para isso não precisava sempre compor canções alegres. Ia até o fundo das canções tristes, mas dava-lhes uma tal doçura e meiguice que as pessoas, ouvindo-as, não sabiam se choravam ou se viam consoladas velhas mágoas. Era um coração se desfazendo em música, Senhor. Deu tanta alegria ao povo, que até a última hora de sua vida (esta não chegou a ser longa, mas se alongou em canção) trabalhou com seu fiel parceiro Toquinho para levar às crianças um tipo musical de felicidade. Morreu pois a vosso serviço, Senhor.

Deus (disfarçando a emoção) - Mande entrar, mande entrar logo esse rapaz.

Vinicius entra rodeado de anjos, crianças, virgens e matronas que entoam mansamente:

Se todos fossem iguais a você,
que maravilha viver!
Uma canção pelo ar,
uma mulher a cantar,
uma cidade a cantar,
a sorrir, a cantar, a pedir
a beleza de amar,
como o sol, como a flor, como a luz,
amar sem mentir nem sofrer.
Existiria a verdade,
verdade que ninguém vê,
se todos fossem no mundo
iguais a você!


De vários pontos, vêm-se aproximando Sinhô, Pixinguinha, Heitor dos Prazeres, Ciro Monteiro, Noel Rosa, Dolores Duran, Orfeu, Eurídice, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Portinari, Murilo Mendes, Mayza, Lúcio Rangel, Tia Ciata, Santa Cecília, Antônio Maria, Bach, Ernesto Nazaré, Jaime Ovalle, Chiquinha Gonzaga e outros e outros e outros que não caberiam neste relato mas cabem na imensidão do céu e som, e unem-se ao coral: Teu caminho é de paz e de amor. Abre os teus braços e canta a última esperança, a esperança divina de amar em paz!"

[Carlos Drummond de Andrade]


AO POETA, POETINHA VINICIUS
Nem ais, eu, posso dizer mais
Quanto mais dizer Vinicius
Quantos vícios na arte de viver?
Quanta arte no vício de sentir?
Quanto sentir na arte do vício?
Só posso ser o sítio de ouvir
A arte do encanto
Que descubro no seu canto
Que sinto no seu sentir
Quanta vida terá ficado por viver?
Quanto verso virgem por escrever?
Quanta mulher ficou por descrever?
Quanta canção não escrita por saber?
Nem ais, eu posso mais dizer
Quanto mais dizer Vinicius
Quanta bossa no samba do poeta?
Quanta raça vai da branca à preta?
Quantas rimas na rima do poema?
Quantas garotas, há ainda em Ipanema?
Brancas de todas as cores
Pretas de todas as dores
Lindas de todos os amores
Feias de todos os sabores
Quanto me falta ainda descobrir?
Quanto me falta ainda por sentir?
Quanto Saravah distribuir?
Na vida toda que está por vir?
Ah! Meu poeta, poetinha
A tua vida toda não foi minha
Camarada no caminho que caminha
Eu não sou mancha, nem sequer manchinha
Apenas aprendiz de poesia
Sinto em cada tua melodia
A arte maior de cada dia
O amor que apenas tu podia
Que posso eu dizer mais?
Nem ais…
Vinicius foi em si, tudo o que eu queria!

[João Moutinho]

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