quarta-feira, 6 de junho de 2007

PAULO LEMINSKI

O paranaense Paulo Leminski nasceu em 24 de agosto de 1944, em Curitiba, onde passou toda sua vida. Desde muito cedo, Leminski inventou um jeito próprio de escrever poesia, preferindo poemas breves, muitas vezes fazendo haicais (poema japonês de três versos), trocadilhos, ou brincando com ditados populares. Aos 20 anos, publicou seus primeiros poemas na revista Invenção. Casou-se em 1968 com a poeta Alice Ruiz com quem teve as filhas Áurea Alice e Estrela e o filho Miguel Ângelo.
Na década de 70, teve poemas e textos publicados em diversas revistas de sua cidade natal - como Corpo Estranho, Muda Código, Raposa - e lançou o seu ousado Catatau, que denominou "prosa experimental", em edição particular.
Em 1983, o poeta passou a publicar pela editora Brasiliense, o que o fez conhecer o sucesso. Passou, então, a colaborar no Folhetim do jornal Folha de S. Paulo, a resenhar livros de poesia para a revista Veja e a participar do Jornal de Vanguarda da TV Bandeirantes. Como compositor, teve músicas gravadas por Caetano Veloso, Paulinho Boca de Cantor, Itamar Assumpção, Ney Matogrosso, por grupos como A cor do Som e Blindagem, e parcerias com Moraes Moreira.
Paulo Leminski foi também faixa-preta e professor de judô, poliglota e tradutor, professor de história e de redação em cursos pré-vestibulares, diretor de criação e redator de publicidade. Para o público infanto-juvenil escreveu em 1986, Guerra dentro da gente e, em 1989, A lua foi ao cinema.
O poeta morreu no dia 7 de junho de 1989. Em sua homenagem, foi inaugurado o Espaço Cultural Paulo Leminski, teatro multimídia ao ar livre, na antiga pedreira municipal de Curitiba, no mesmo ano.

Famoso, respeitado, dono de um enorme prestígio, Paulo Leminski realmente ampliou-se ao limite máximo e partiu em direção ao "sonho de outras esferas". Viveu com a intensidade de um samurai zen budista e construiu uma obra seguramente inscrita definitivamente na pele da prosa e da poesia brasileira. Poeta inovador, polemista irreverente, agitador imantado e — fatalidade inquestionável — humano, atingiu uma luminosidade extrema, como ele mesmo escreveu no poema "Sintonia para pressa e presságio": "Eis a voz, eis o deus, eis a fala,/ eis que a luz se acendeu na casa/ e não cabe mais na sala".

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"Esses poemas, mais que quaisquer outros,
estão cheios de noites e madrugadas adentro.
Cheios de uma dor tão elevada que é capaz
de nos fazer rir, apesar de tudo.
Cheios de dias na vida de uma luz.
São poemas de vitalidade, apesar do adeus..."

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SINTONIA PARA PRESSA E PRESSÁGIO

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
Na pele, na palma, na pétala,
Luz do momento.
Soo na dúvida que separa
O silêncio de quem grita
Do escândalo que cala,
No tempo, distância, praça,
Que a pausa, asa, leva
Para ir percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
Eis que a luz acendeu na casa
E não cabe mais na sala.

Paulo Leminski