sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Canto a Garcia Lorca



Não basta o sopro do vento

Nas oliveiras desertas,

O lamento de água oculta

Nos pátios de Andaluzia.


Trago-te o canto poroso

O lamento consciente

Da palavra à outra palavra

Que fundaste com rigor.


O lamento substantivo

Sem ponto de exclamação

Diverso do rio antigo,

Une a aridez ao fervor.


Recordando que soubeste

Defrontar a morte seca

Vinda no gume certeiro

Da espada silenciosa

Fazendo irromper o jacto


De vermelho: cor do mito

Criado com a força humana

Em que sonho e realidade

Ajustam seu contraponto.


Consolo-me da tua morte

Que ela nos elucidou

Tua linguagem corporal

Onde el duende é alimentado

Pelo sal da inteligência,

Onde Espanha é calculada

Em número, peso e medida.


Murilo Mendes

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