segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Grafito para Ipólita


I
A tarde consumada. Ipólita desponta.

Ipólita, a putain do fim da infância,
Nascera em Juiz de Fora, a família em Ferrara.

Seus passos feminantes fundam o timbre.
Marchita, parece, ao som do gramafone.

A cabeleira-púbis, perturbante,
Os dedos prolongados em estiletes.

Os lábios escandindo a marselhesa
Do sexo. Os dentes mordem a matéria.

O olho meduseu sacode o espaço.
O corpo transmitindo e recebendo

O desejo o chacal a praga o solferino
Pudesse eu decifrar sua íntima praça!

Expulsa o sol-e-dó, a professora, o ícone,
Só de vê-la passar, meu sangue inobre

Desata as rédeas ao cavalo interno.

II
Quando tarde a revejo, rio usado,
Já a morte lhe prepara a ferramenta.

Deixa o teatro, a matéria fecal.
Pudesse eu libertar seu corpo (Minha cruzada!)

Quem sabe, agora redescobre o viso
Da sua primeira estrela, esquartejada.

III
Por ela meus sentidos progrediram.
Por ela fui voyeur antes do tempo.

IV
O dia emagreceu. Ipólita desponta.

Murilo Mendes

Nenhum comentário: