quinta-feira, 4 de outubro de 2007


"Todos os dias que depois vieram, eram tempo de doer. Miguilim tinha sido arrancado de uma porção de coisas, e estava no mesmo lugar. Quando chegava o poder de chorar, era até bom - enquanto estava chorando, parecia que a alma toda se sacudia, misturando ao vivo todas as lebranças, as mais novas e as muito antigas. Mas, no meio das horas, ele estava cansado. Cansado e como que assustado. Sufocado. Ele não era ele mesmo. Diante dele, as pessôas, as coisas, perdiam o peso de ser. Os lugares, o Mutúm - se esvaziavam, numa ligeireza, vagorosos. E Miguilim mesmo se achava diferente de todos. Ao vago, dava a mesma idéia de uma vez, em que, muito pequeno, tinha dormido de dia, fora de seu costume - quando acordou, sentiu o existir do mundo em hora estranha, e perguntou assustado: - 'Uai, Mãe, hoje já é amanhã?!' " (trecho do livro MIGUILIM, Guimarães Rosa)

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